Hello, Stranger!
Quando eu era pequena,
roubaram minha vida e colocaram num potinho.
Me disseram que era pra rir e falar bem baixinho.
"Azul é cor de homem" - sempre repreendiam.
E quando eu não entendia nada, me julgavam "criança" e riam.
Desde sempre, repetiram:
"Que unhas mal feitas", não sabe que devem estar ao menos pintadas?
"Você é uma macaca?", claro que pernas devem ser depiladas!
Quando cresci mais um pouquinho era:
"Não sente de pernas abertas" - você já é uma mocinha.
"Mas você quer comprar isso mesmo, né? Cinza não é cor decente de calcinha!"
Disseram que eu devia usar saias, bijuterias, sandálias.
Que devia gostar de música clássica, coisas caras e cores claras.
Que dread é coisa de 'negão', patriotismo é coisa de alemão.
Cabelo curto é coisa de lésbica, regata é coisa de "gay",
E quando eu não entendia de novo, apenas diziam "vai por mim, dessa vida, eu sei".
Disseram que se me chamam de gostosa na rua, é para elogiar.
Mas nunca entendi essa lógica, nunca vi "elogio" amedrontar.
Disseram que eu era livre, que podia fazer o que desejasse.
Mas quando passaram dos limites e me defendi, disseram "com essa roupa, você queria que ele ignorasse?"
Disseram que eu tinha que escolher um lado.
Porque gostar de homens e mulheres não é legal nem educado.
"Tome logo sua decisão" - não se pode ter tudo na mão.
Então, sem mais rimas, entendi o que significa "machismo" e o que é "homofobia", o que é "racismo" e também trans/bifobia.
Entendi tudo: como o ser humano acaba com sua própria imagem e como ele julga seu semelhante antes mesmo de entender o que se passa com o envolvido.
Como ele perde e ganha fé nessa humanidade à cada dia e como as menores coisas vão perdendo o sentido com o tempo.
Só não entendi ainda o porquê de tudo isso.
Passei muito tempo me perguntando porque quando ocorre um acidente de trânsito as pessoas se preocupam mais com o fato de chegarem tarde em casa do que com a vítima.
E depois de muita reflexão descobri o motivo do descaso: não é o primeiro descaso.
Quem comete o descaso de pensar mais na hora que chegará em casa do que com a vida, o faz porque já ocorreram milhares de descasos antes do dele/a.
O faz porque há vitimas o tempo todo nos jornais, e ninguém se importa mais porque já não é novidade.
Não é mais novidade o negro apanhar porque é negro.
Não é mais novidade o homossexual apanhar porque é homossexual.
Não é mais novidade a mulher apanhar porque é mulher.
Não é mais novidade o deficiente ser ignorado porque é deficiente.
Não é mais novidade um filho da puta beber, dirigir e matar alguém.
E é essa falta de novidade que transforma vidas em números todos os dias.
E existem dias onde eu simplesmente não consigo manter a fé.
Não somos vítimas, somos um número. Um RG, um CPF, uma combinação gerada por um computador que não sente nada por nós, nem por nosso descaso conosco mesmo todos os dias.
Enfim, é uma reflexão que eu deixo.
À respeito de valorizarmos a vida e nossos iguais.
Mas não valorizar por causa de religiões, Deus, porque você quer se reinventar ou porque você precisa ser 'bonzinho'.
E sim porque sinceramente e com o perdão da palavra, nós somos tudo a mesma merda.
Eu sou exatamente igual à você que lê isso agora e igual à todos os outros que existem da nossa espécie.
=
Ficam então uma foto postada pela Lena Headey em seu
instagram falando sobre a Homofobia...
(Eu odeio a palavra "homofobia". Não é uma fobia. Você não está assustado, você é só um imbecil).
E uma imagem da
Pocket Comix uma página maravilhosa do Facebook que fala sobre vários assuntos e defende tudo que é bacana. Merece muito seu like e apoio.